"Putin enfrenta dilema à medida que as ameaças nucleares perdem efeito sobre líderes ocidentais."
O presidente russo Vladimir Putin enfrenta um dilema crescente: suas constantes ameaças nucleares parecem ter perdido o poder de intimidação. Analistas e autoridades russas reconhecem que o Ocidente já não teme o uso de armas nucleares pela Rússia, forçando o Kremlin a buscar novas estratégias para manter sua influência no cenário global. Isto foi noticiado pelo The Washington Post
Fontes próximas à diplomacia russa afirmam que há um entendimento dentro do Kremlin de que as "linhas vermelhas" traçadas por Moscou estão sendo repetidamente ignoradas. O uso excessivo de ameaças nucleares criou uma "imunidade" entre os líderes ocidentais, que têm se mostrado menos dispostos a ceder à pressão russa. “Já existe imunidade a tais declarações, e elas não assustam mais ninguém”, afirmou uma fonte russa sob anonimato.
Mudança de Estratégia: A Busca por Novas Ferramentas de Intimidação
Com a percepção de que a ameaça nuclear perdeu sua eficácia, Putin está sob pressão para adotar novas medidas. Segundo analistas, Moscou poderia recorrer a operações de sabotagem ou até a cooperações clandestinas com grupos insurgentes, como os Houthis do Iêmen, para atacar alvos estratégicos de difícil rastreamento no Ocidente. “Ele não quer uma guerra nuclear direta, mas isso não significa que nada grave vá acontecer”, observou Lawrence Friedman, professor emérito de estudos militares do King's College London.
Ao mesmo tempo, há dúvidas entre especialistas sobre até onde Putin está disposto a ir. A fundadora da consultoria política francesa R-Politik, Tetyana Stanova, afirma que, embora as "linhas vermelhas" traçadas pelo Kremlin tenham sido frequentemente desconsideradas, o verdadeiro risco político para Putin seria um ataque profundo no território russo. Isso poderia desestabilizar ainda mais sua posição interna, ao contrário das respostas relativamente contidas aos fornecimentos de armas ocidentais para a Ucrânia.
Ameaças Vagas e Efeitos Limitados
As ameaças nucleares de Putin sempre foram marcadas por uma ambiguidade intencional. Analistas como Friedman acreditam que essa falta de clareza foi usada para aumentar a sensação de perigo, sem comprometer Moscou com ações drásticas. “Ele nunca foi específico sobre o que faria. Ele permite que façamos nossas próprias interpretações, e as pessoas sempre pensam no pior", explicou Friedman.
Entretanto, a eficácia dessa abordagem parece estar diminuindo. Enquanto o Ocidente, em especial os Estados Unidos, continua a fornecer armas à Ucrânia, a Rússia enfrenta a crescente dificuldade de proteger suas "linhas vermelhas" sem recorrer a medidas extremas, como o uso de armas nucleares, o que, por sua vez, poderia isolar ainda mais Moscou em um cenário global.
Pressão para Escalar o Conflito e a Ameaça Nuclear
De acordo com Sergei Markov, um analista próximo ao Kremlin, Putin pode aumentar a retórica nuclear à medida que as eleições presidenciais americanas de novembro se aproximam, numa tentativa de assustar o eleitorado dos EUA e promover a candidatura de Donald Trump, que defende uma postura mais conciliatória com a Rússia. Markov acredita que a Rússia "terá de escalar" a situação, já que o Ocidente parece ter aprendido a não temer mais as linhas vermelhas de Moscou.
Por outro lado, Stanova sugere que Putin pode não ter clareza sobre suas próximas ações. "A incerteza cresceu porque ninguém sabe quais respostas Putin pode escolher para cada nova ação ocidental. Acho que nem Putin sabe", afirmou.
Problemas Técnicos e Pressão Internacional
Recentemente, um incidente envolvendo um míssil balístico nuclear intercontinental RS-28 "Sarmat" durante um teste na Rússia chamou a atenção internacional. O míssil explodiu durante o reabastecimento, de acordo com um relatório de pesquisadores da OSINT, e destacou ainda mais a pressão crescente sobre Putin para encontrar soluções que não envolvam o uso de armas nucleares, algo que poderia provocar uma forte reação global.
Bateu Levou
O ex-diretor da CIA, David Petraeus, já havia advertido a Rússia de que qualquer uso de armas nucleares contra a Ucrânia resultaria na entrada direta dos EUA na guerra, um cenário que Moscou quer evitar a todo custo.
Com as ameaças nucleares perdendo sua eficácia e a pressão interna e externa aumentando, o Kremlin se vê em um impasse, buscando desesperadamente alternativas para manter sua influência e evitar uma escalada que poderia ter consequências catastróficas para todos os envolvidos.